segunda-feira, 30 de julho de 2012

O VIADUTO OTÁVIO ROCHA E O DESCASO ADMINISTRATIVO



O que confere valor humano a um espaço? perguntava Teniza Spinelli, crítica de arte do jornal “Usina do Porto”, na apresentação da Mostra Visões do Viaduto, com a participação de quarenta artistas plásticos, sob a minha coordenação, na condição de coordenador–geral do Movimento de Integração Cultural e do Fórum Independente de Cultura, Educação, Turismo e Patrimônio de Porto Alegre, e a colaboração de Mara Caruso, do Atelier Livre e de artistas da Associação Francisco Lisboa.

Muitas são as respostas, embora a mais singela seja o nosso sentido de identidade, de amor por ele. Como se nos coubesse um pouco da nobre função de proteger, semelhante àquela atribuída ao genius loci, divindade tutelar de uma pessoa, o espírito dos lugares e das coisas.

No mesmo documento eu referia que aquele ato cultural com uma proposta estética, adquirisse, também, uma proposta ética, solidária e participativa. Um ato cultural com uma proposição política em que a política enquanto dever e direito de cada cidadão, sirva à cultura e não como tem acontecido em que a cultura é usada pelos políticos. O que pretendemos é que deixemos de ser objeto de políticas culturais emanadas de decisões governamentais e passemos nós, os artistas, os verdadeiros produtores de cultura, os que escrevemos, pintamos, esculpimos, grafitamos, cantamos, representamos, enfim, os que fazemos da arte uma profissão, um ideal ou um modo de vida, a pensar o que queremos para a cultura da nossa cidade.

Daí o nosso descontentamento com a forma como vem sendo tratado o Viaduto Otávio Rocha, essa importante obra de engenharia civil cuja origem remonta a 1914 quando o primeiro Plano Diretor da cidade previu a abertura de uma rua para ligar as zonas sul, leste e central da cidade, até então isoladas pelo chamado Morrinho. Sua construção, no entanto, só foi decidida em 1926, sendo inaugurado o Viaduto em 1932.

Executado em estrutura de concreto armado e revestido com cirex, possui três vãos, o central com 19,20m e os laterais com 4,80m. As rampas de acesso para pedestres possuem em sua parte inferior, na Avenida Borges de Medeiros, lojas destinadas ao comércio. E aí, começa um drama humano, além da deterioração do monumento na sua materialidade.

Desde 2007, ano em que foi criada, a Associação dos Comerciantes do Viaduto Otávio Rocha, com o apoio da Associação dos Moradores do Centro Histórico, da Associação dos Amigos da Rua 24 de Maio, da FUNDAR, do Movimento de Integração Cultural e do Fórum Independente de Cultura, Educação, Turismo e Patrimônio, vem lutando pela revitalização e humanização daquele Monumento Público tombado desde a década de 80. Registre-se que tombamento, provavelmente originado do termo latino tomex, significa inventário, visando a preservação e restauração. E o que faz a atual administração da Prefeitura Municipal? Preocupa-se com o bem imaterial representado pelas atividades desenvolvidas? Algumas das lojas, com 50 anos de existência, fazem parte já da história da cidade, passando de pai para filho. Não. Preocupa-se em cobrar aluguéis atrasados de alguns dos permissionários, ameaçando-os com despejo judicial e, através da SMIC, tentou constituir uma Parceria Público Privada para entregar a concessão dos espaços do Viaduto, por 20 anos, a alguma empresa que se dispusesse a administrar aquele Monumento Histórico e tombado. A iniciativa foi um fracasso, nenhuma empresa se inscreveu.

Enquanto isso, nada é feito, e o Viaduto, obra arquitetônica ímpar na América do Sul, permanece sendo acampamento de moradores de rua com as consequências daí advindas, restos de alimentos, prática de necessidades fisiológicas, e a proliferação de ratos, baratas e outros insetos, atraídos pelo uso inadequado daquele espaço público. Há ainda, a necessidade de equacionar a solução para os problemas dos dutos de drenagem pluvial, fato gerador de infiltrações nas lojas e que acarretam dificuldades aos transeuntes que, em dias de chuva, enfrentam verdadeiras cascatas ao utilizarem as escadarias; assim como necessária se faz a segurança, inexistente seja pela guarda Municipal, seja pela Brigada Militar, para coibir furtos de fiação e luminárias, bem como a prática de delitos como uso de drogas e a prática de depredações.

Pelo exposto, consideramos importante elaborar diretrizes para a revitalização, humanização e manutenção do Viaduto Otávio Rocha. Diretrizes amplas e objetivas e que não tenham por foco apenas tecnologias de restauro, mas de valoração do humano, compreendendo aí os comerciantes lá instalados, alguns há 50 anos, bem como características de ambiência, viabilizando estudos de impacto de vizinhança, implementando um plano de interferência de forma a integrar as diretrizes comportamentais e culturais com as alterações físicas que se façam necessárias para harmonizar as necessidades dos permissionários do Viaduto Otávio Rocha com a preocupação dos moradores do Centro Histórico que encaram o Viaduto como um logradouro indesejado, recusando-se alguns de por ali transitar à noite por considerá-lo um lugar inseguro.

É este mais desafio que a candidata Manuela d´Ávila terá que enfrentar: o de revitalizar e humanizar este que é um monumento único na América do Sul.


por Gilberto Wallace Battilana
Diretor Cultural da Associação dos Amigos do Centro Histórico




FONTE:http://www.manuelaprefeita.com.br/jogoaberto/o-viaduto-otavio-rocha-e-o-descaso-administrativo/

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