quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O sol da meia - noite


JORNAL CORREIO DO POVO ANO 117 Nº 126 - PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 2012 

Por Antonio Carlos Côrtes 

Quando Roberto Correa Barros - Betinho -, então presidente dos Imperadores do Samba, idealizou desfile pré-Carnaval na av. Borges de Medeiros, em Porto Alegre-RS, no Quartel dos anos 80/90, com certeza imaginava que esta saudade era o combustível da alegria. No futuro enxergou o cisne da Escola de Samba Estado Maior da Restinga sobrevoando toda a avenida. E foi pensando nisso que passei a prestar mais atenção nesta conquista dos 15 mil do povo a cada sexta-feira e me deixar tocar pela emoção que divido com o leitor, especialmente, borgeano ao ver a chuva cair e exalar perfume, suave e ímpar. O sol de meia-noite aquecendo a alma em forma de calor humano. A lua, segundo o compositor Túlio Piva, "é pandeiro de prata". O riso da criança comove.

Tudo é simples. Pelo toque de amor, que há em tudo que está ao nosso redor, em forma positiva. Na emoção do poeta Wilson Ney, mandando o povo descer da arquibancada para sambar na avenida ou na gargalhada discreta do pesquisador Osvaldo Reis. Pela alegria, podemos enxergar o aumento da aura de nosso (a) irmão (ã), percebemos encantos no caminho do entendimento de que ele (a) é parte de mim e, portanto, não há razão nem sentido para o ódio ou a inveja, pois estaríamos simplesmente odiando ou invejando a nós mesmos. A palavra graça vem do grego caris, que significa o ungido, o protegido. Também quer dizer alegria, considerando que aquele que recebe graça sente-se firme e seguro diante de qualquer perigo. Quando passamos bom humor, alegria à pessoa que está triste, praticamos a caridade e, naquele momento, estamos orando! O bom músico se torna virtuoso das qualidades da alma se praticar diariamente. O bom humor facilita o convívio e constitui amortecedor na estrada cheia de buracos que é a vida. É força transformadora em que nada mais é necessário. Aprendemos a não ser tesoura que corta e divide e, sim, agulha que costura o que está despedaçado. Como aprendi não sei onde. O ser humano tem capacidade de colocar-se no lugar do outro, mas boa parte ainda não descobriu isso.

Não faça para o outro o que o não gostariam que fizessem para si, porque, para estes, aqueles não existem. Obrigado, velha Borges de Medeiros, que nos contempla nos arcos do seu viaduto que, neste ano, comemora 90 anos nos quais o povo do Carnaval integra o bloco Unidos pela Revitalização e Humanização. Somos amigos e parceiros do viaduto Otávio Rocha, o mais belo do planeta.


* Este é um dos textos já escolhidos para o livro em comemoração aos 80 anos do Viaduto em dezembro.
Desde já Agradecemos a um dos incentivadores do Movimento Amigos do Viaduto, o qual tem uma identidade cultural junto aos lojistas deste monumento. Parabéns pela inspiração deste texto!

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